As perspectivas para a economia não são das melhores para o Brasil em 2015, porém o país não corre o risco de uma “argentinização”, afirmou o ex-presidente do Banco Central, o economista Gustavo Loyola aos empresários e líderes que participam, em Foz do Iguaçu, da XXIV Convenção Anual da Faciap, a Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná.
Loyola fez uma análise do cenário sócio-político internacional para tecer considerações sobre as expectativas para a economia brasileira em 2015. Há, de acordo com ele, três fatores de incertezas globais. A primeira é a normalização da política monetária dos Estados Unidos, que depois da crise de 2008 optou por um modelo expansionista e de taxa de juros próxima de zero. Agora, com avanços no cenário econômico daquele país, os ajustes, que são necessários, podem causar efeitos indesejados nos Estados Unidos e em boa parte do mundo, inclusive no Brasil. O principal aspecto disso é o fato de o dólar ser a moeda global e de influenciar o câmbio principalmente nas economias ocidentais. A valorização do dólar tem consequências como a menor cotação do petróleo em dez anos e a redução do valor das commodities, então com efeito direto nos negócios brasileiros.
O segundo aspecto está associado à desaceleração da economia chinesa. O vigor da média de crescimento na casa dos 10% não vai se repetir em 2015 e nos próximos anos. O avanço deverá ficar entre 6% e 6,5%, considerada por Loyola uma taxa razoável para o Brasil, que tem a China como um dos principais compradores de carnes e grãos. Outro fator de incerteza é a recuperação dos países europeus, porém de forma instável. “Uns crescem mais que outros, porém não há mais risco de calote principalmente das economias mais fortes do bloco”.
A expectativa de crescimento mundial, no período de 2014 a 2015, é de 3,7%. Porém, a do Brasil não deverá passar de 1,7% – em 2014, a expansão do PIB será de apenas 0,2%. Para o ano que vem, Gustavo Loyola estima que o País cresça 1%. No período de 2011 a 2014, o Brasil avançou 1,6% contra 3,1% da América Latina, de 3,4% de aumento médio no mundo, de 4,4% da América do Sul e de 5,2% dos países emergentes. Conforme o economista, os brasileiros pagam, e caro, pelos erros da política econômica do atual governo.
MUDAR O MODELO
Conforme Loyola, não se pode mais querer desenvolvimento com consumo, como o PT tem feito nos últimos anos. Isso provoca desequilíbrios, a médio prazo, de inflação alta (principalmente nos serviços, de 9% ao ano) e externo, com déficit crescente – hoje é de 4% do PIB; em 2005, era de 2%). Entre os equívocos estão a desoneração de alguns setores econômicos, a falta de incentivos à produção e à competitividade com consequentes problemas fiscais. A falta de confiança no governo federal, que atinge os mais graves índices da história, poderá levar à redução do consumo e de investimentos. Um dos principais desafios do Governo Dilma, segundo Gustavo Loyola, será de recuperar a credibilidade da política econômica brasileira, promover reformas estruturais profundas, desburocratizar e fazer ajustes nas políticas macroeconômicas.
As previsões para 2014 são de crescimento das exportações e recuo das importações, tendência de aumento na taxa de desemprego, pequeno avanço da renda e taxa de inflação na casa 6,5%. O câmbio deverá fechar o atual exercício em R$ 2,58 e a projeção otimista para o fim do ano que vem, segundo Loyola, é de a moeda norte-americana ser cotada a R$ 2,80. Além de reverter a crise de confiança, o governo deverá acabar com a contabilidade “criativa” das contas públicas, eliminar a prática de controle de preços administrativos, recuperar a importância e caráter técnico das agências reguladoras, abrir a economia e acelerar a concessão para as tão necessárias obras estruturais.
DEBATEDORES
Depois da palestra, Gustavo Loyola aprofundou algumas questões, principalmente associadas às reformas e questões econômicas, com os presidentes do Conselho Deliberativo do Sebrae, João Paulo Koslovski, da Faciap, Rainer Zielakso, da Fiep, Edson Campagnolo, da Fetranspar, Sérgio Malucelli, e o vice-presidente da Fecomércio, Paulo César Nauiack.
Fonte: Faciap - www.faciap.org.br